A Noite do Fico

Odeio a pressão por sair. Se é sexta ou sábado à noite, você tem de sair, se não é deprê. Essa pressão não é imposta por alguém, alguma pessoa, que liga, som de balada ao fundo, para perguntar: “O que você está fazendo?” E quando você responder: “Estou em casa.” Ela diz: “Que deprê.”
É uma pressão sem foco. Só pressão, como a pressão por ter um trabalho (ninguém diz: “nossa, cara, não acredito que você não tem trabalho”. Mas o fato é que mesmo que você seja triliardário de pai e mãe, você tem de ter um trabalho, alguma coisinha que você faça. Alguma coisa você tem de fazer, mesmo que seja hobby).
Pois agora é sexta à noite. E todo mundo deveria estar na balada, no bar, num jantar, na casa de alguém ou com alguém na sua casa. Eu não estou. Quero acordar cedo amanhã, quero correr, ir ao supermercado, fazer isso e aquilo à tarde porque à noite eu vou fazer tal coisa. Mas nada disso importa.
Logo que eu saí do trabalho, às 20h em ponto, já sabia o que seria da minha noite (vou pra casa, ler mais umas páginas do livro, tentar postar alguma coisa no Caracs - é o apelido deste blog pra mim - e dormir, antes da meia-noite, porque amanhã quero acordar cedo, correr, ir ao supermercado, fazer isso e aquilo porque à noite vou fazer tal e tal). Estava tudo certo. Até que cheguei em casa. E comecei a sentir a pressão. Ela emana dos bares, sempre cheios de gente, e ganha uma face cruel no Twitter e no Facebook.
Porque quem twitta e posta no FB na sexta à noite ou está em casa (deprê) ou está na balada, relatando. De maneira que ambas as mídias sociais viram um campo claramente dividido em dois: os que ficaram e o que foram. E todo mundo quer estar entre os que foram, mesmo que eles estejam agora na balada teclando seus tecladinhos para dizer que está incrível, o que eu acho bem chato.
Já eu cá estou, fiz jantar (estava bem bom), comi, li, escrevi e vou dormir. Porque amanhã, como já disse, quero correr, ir ao supermercado, à tarde, isso e aquilo, e à noite, tal e tal. Mas durante essas três horas, embora fazendo jantar, lendo, embora entretida, a cada cinco minutos pensei “será que devia ter aceitado aquele(s) convite(s)?”. Por mais convicto que seja, ficar em casa na sexta ou no sábado à noite é um ato de rebeldia, dos mais ferozes. Mesmo que isso seja tudo o que você quer fazer. Tudo tem um preço nessa vida.

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