Depois da queda, o choro

"No primeiro dia, tudo é estranho. É como Teresa e suas pernas estúpidas. O pé fica dolorido, e as pernas, bobas. No segundo dia, Teresa segue esquisita. Então chega o terceiro. Dizia o poeta: 'Da terceira vez não vi mais nada. Os céus se misturaram com a terra'. Ele estava certo. Mas, não era terra, era neve."
Eu descrevi assim, em texto publicado no caderno de Turismo da Folha em 2005, o meu tombo de snowboard. Esse tombo quebrou meu cóccix, apontado no lindo desenho de minha autoria aí em cima.
Foi uma dor igual àquelas de tombos de bicicleta na infância. E eu, que tinha então 24 anos, abri o berreiro. Chorei que nem criança quando cai, meio de dor meio de susto. Criança cai e chora. Adulto sente dor e morde o lábio. No máximo. Daí, quando vem uma dor dessas que faz chorar, esse choro de criança serve, acho eu, para dar vazão às coisas de adulto também, essas que ficam ali guardadas esperando um motivo concreto e inquestionável, no meu caso no cóccix, para sair. Tudo de uma vez só.
É como quando a Chihiro puxa o espinho do espírito (veja a cena abaixo).
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Ali, deitada na neve, chorei pela dor infantil do cóccix quebrado e pela dor adulta de saber que eu não ia mais fazer manobras de snowboard naquela viagem.
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