Descarrila que é bom

Saio de férias hoje. Vou ficar fora por 20 dias, esperando que as autoridades ferroviárias retirem os vagões descarrilados do trilho do trem.
Sou cismada com o termo 'train wreck'. Tem um tom de desastre na combinação train com wreck que parece que você já vê a confusão quando ouve as palavras juntas. E defendo a ideia de train wreck em si: o trem sai do trilho, chega a roda um pouquinho para lá e tudo vira uma bagunça danada.
I am definitely a train wreck.
Também cismo com metáforas de trem. A minha favorita é quando você começa a falar alguma coisa e as palavras vão saindo da sua boca que nem uma locomotiva a todo vapor, geralmente desgovernada. Pois foi exatamente isso que, numa tarde de domingo, levou ao meu mais recente train wreck.
E daí veio uma montanha-russa seguida da outra (porque é isso que acontece quando você sai da rota). Se você pensar direitinho, uma montanha-russa também é um trem. Envenenado, é verdade. Mas é um trem.
Pois veio uma, veio outra, looping, parafuso e, merecidamente, saio de férias hoje. Esperando que as autoridades ferroviárias dêem conta do serviço, quieta em vários cantos, porque no meu canto eu já tô. E chega do meu canto por agora, que férias é férias. De qualquer forma, a ideia é ficar um pouco quieta.
É que um dos loopings-duplos-parafusos da sequência de montanhas-russas foi ouvir, veja quanta contradição, que às vezes tudo é dito no silêncio. (Sshhhhhh, quietinha, tá ouvindo?) Depois veio um silêncio que era só uma resposta que não vinha (e isso foi dar no melhor CAPSLÓKI deste blog).
De silêncio bom em silêncio ruim, aprendi, justo eu, tão ligada em palavras e letrinhas, que ficar quieto pode ser muito mais direto do que a franqueza que cultivo diariamente. Não que eu tenha muita coisa para dizer agora, não é isso. É só que eu aprendi essa e queria dividir com vocês.
(Agora repare como a vida é bem escrita. Uma história que começa com palavras que saem da boca em desgoverno evolui para uma fábula sobre a importância do silêncio. Esses roteiristas, viu, vou te contar.)
Minha mãe já tinha tentado me ensinar. Ela sempre diz: falar é prata, calar é ouro. E diz que a mãe dela tentou ensinar isso a ela. E é bem verdade que a minha avó é calada. Já eu, eu não tomo jeito. Gosto de tudo clarinho-clarinho, detesto dúvida e suposição. Daí desato a tagarelar até que tudo tenha sido dito.
É o que venho fazendo aqui neste blog sobre nada, de besteira em cima de bobagem, de gracinha sobre gracejo, vou falando tudo o que acontece e, se você prestar atenção, já contei um tanto de tudo, de quem sou e do que acho das coisas. Pois vou parar um tiquinho. Mas volto logo-loguinho.
Chego junto em meados de janeiro, descansada, bronzeada e descarrilada (porque uma vez que sai dos trilhos, né, já era). E pronta pra preparar uma comemoração bem daqui. É que bem na metade do mês este blog completa um ano. Um ano característico. Pra mim, ano de descarrilar. E aqui no Caracteres isso só tem lado bom. Porque andar sempre no trilho é coisa de gente trouxa.

3.028 caracteres com espaço