Na zona da braguilha
Entre os muitos detalhes curiosos do desfile masculino apresentado pela espanhola Isabel Mastache na semana de moda de Madri, as calças tinham um pinto de pano costurado na braguilha.

O único jeito de saber exatamente o que os perus estavam fazendo ali é falando com a estilista. Mas é inevitável associá-los aos históricos codpieces, também conhecidos como estojos penianos.
Para falar do codpiece é preciso voltar alguns séculos, para um tempo em que o gancho da calça não era algo tão óbvio assim. Quando você dobra a sua calça ao meio, ela forma um gancho. Essas curvas da modelagem levaram bastante tempo para serem resolvidas. E são fundamentais.
Por que? Estruturalmente, nós somos um cilindro (tronco) que de repente vira dois cilindros (pernas). Agora pense em canos de água. Se você coloca um canão em cima de dois caninhos, ficam ali umas frestas. Agora lembre que estão bem nessas frestas algumas das partes mais sensíveis do corpo.
Pois bem, por anos e anos e anos, os homens usavam saia, entre outros motivos, porque ninguém sabia como construir uma calça que cobrisse tudo direitinho e fosse minimamente confortável.
Eis que, no século 16, os homens estão em um momento de auto-imagem impressionante. Eles estavam conquistando o mundo, era a época das grandes navegações, e os reis eram absolutistas. Enfim, o homem tava-que-tava. E isso se refletia nas roupas. Ombros enormes e postura ereta. Os gibões, como era chamada a parte de cima, encurtaram. Com isso, a calça apareceu inteira. E o pinto? Para resolver o problema anatômico, foi criado o codpiece, que era uma espécie de pochete peniana encaixada bem ali onde faltava tecido nas calças.

O codpiece surgiu em primeiro lugar por uma questão prática. Mas bastou começar a ser usado para passar a virar mais um elemento de reafirmação da masculinidade dessa figura forte do século 16. Um, dois e três, os codpieces começaram a aparecer em forma de pinto duro.

Agora, me diz, porque o pobrezinho do homem contemporâneo não ganhou uma bela ereção? Meu palpite: a imagem do homem hoje está mais para caidinho do que para descobridor dos sete mares.
Isso me fez lembrar o desfile da Givenchy que partiu de uma camiseta "Jesus is the Lord" e fez uma coleção toda inspirada em J.C. Lá pelas tantas, entra um cara na passarela com uma coroa de espinhos no pescoço. Certeza que se o desfile fosse no século 16, o Riccardo Tisci de outrora teria dado mais atenção, na Bíblia, ao momento em que Jesus andou sobre as águas do que à hora em que ele entra pelo cano.
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