Peido, pum, peidinho e peidaço
Lamento que não se possa peidar com orgulho em público. O peido tem a sua virtuose, uma sintaxe própria. Deveria ser arte exibicionista. Há quem peide com classe, há quem se atrapalhe todo. E essas voláteis sutilezas estão restritas à privacidade dos banheiros ou à discrição da calçada, onde peido não tem dono. 'A Arte de Peidar' olha de perto esse universo impalpável. Escrito no século 18, por Pierre-Nicholas-Thomas Hurtaut, foi traduzido e publicado no ano passado pela editora Phoebus (e pode ser comprado na Livraria Cultura por R$ 23). Hurtaut defende 'as vantagens do peido para a sociedade'. E veja como não há caminhos para discordar dele: * * Eu seria uma pessoa mais feliz se pudesse manifestar meu tédio com peidos, que são muito mais enfáticos que virar os olhos ou dar uma bufadinha. Outro argumento irresistível: * * Estou com Hurtaut e não abro. Peidadores e flatulentas, não há motivo de vergonha! Todo mundo solta em média 14 peidos por dia (veja infográfico abaixo). Isso quer dizer que, descontados os peidos noturnos (vamos contar que eles sejam meia dúzia), você pode interromper OITO tagarelas pentelhos ou puxar OITO conversas. E se você souber que vai encontrar muitos chatos ao longo de um dia, pode comer feijão no café, para aumentar o arsenal. Mas de volta a Hurtaut, ele leva a coisa bem adiante. Respeita o peido com tanto ardor que analisa os tipos de gases como se fossem rótulos de vinho: * Repare como Hurtaut é anti-terroir! * Buquê do peido! * E quando ele dá para separar os tipos de peido! É de chorar de rir. Tem o peidaço, ou peido-petardo, que 'manifesta-se com grande ruído'. "Esta fênix dos peidos pode ser comprarada à explosão dos canhões", e tem o peido ditongo: "pa, pa pax, pa pa pa pax, pa pa pa pa pax. Enquanto isso, o ânus não se fecha perfeitamente: a matéria vence assim a natureza". Os nomes continuam brilhantes: "Semivocal ou peidinho", "peido claro", "peido médio", "peido aspirado", "peido mudo ou bufa" (na minha casa tinha um ótimo: "pum-borrão"). E como especialista generoso, Hurtaut ainda ensina a dissimular o peido, "para uso daqueles que se apegam ao preconceito". Enfim, são 94 páginas para ler peidando de rir. * Mais sobre peidos:
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