A primeira música das Indigo Girls que eu ouvi foi Power of Two. A professora de inglês mais legal que eu tive (não lembro o nome dela) escolheu a música pra gente “tirar a letra” na aula. Era assim que a gente chamava esse curioso exercício de ouvir a música e tentar entender o que estavam falando (quem já fez, sabe que você nunca mais consegue apagar a letra em questão da cabeça). Eu devia ter uns 13, 14 anos. A música é de 1994.
Por questões de contexto, sempre ouvi música caipira, sertaneja e country. Aquele folk composto e cantado por mulheres levava a coisa pra um lugar tão mais interessante! Amei e comecei a ouvir mais. Não demorou muito pra chegar em Closer to Fine, que é inclusive mil vezes mais conhecida.
Eu achava que todo mundo amava Indigo Girls. Spice Girls, Indigo Girls, tudo girls. Piadas à parte, eu achava que era meio igual Creedence. (Tem uma piada que nunca morre na minha casa. Um dia, meu marido tava me zoando por gostar de Pavement, uma banda que “ninguém conhece” segundo ele. Sem pensar muito, eu falei que era igual Smashing Pumpkins. Por que eu fui usar esse exemplo? Porque eu fui num festival que um tocou depois do outro. Ele rapidamente entrou na Wikipedia e viu que SP vendeu zilhões de discos a mais que Pavement. Então sempre que eu falo que duas coisas têm o mesmo tamanho ou que uma banda é conhecida, ele responde: certo, tipo Smashing Pumpkins?).
Corta. Entrei na faculdade e tinha um cara da sala que tava afim de mim. Um dia ele me perguntou o que eu estava ouvindo recentemente. Eu respondi que naquela tarde tava ouvindo Indigo Girls. Não lembro o que ele respondeu. Mas no dia seguinte, depois de um intervalo entre aulas, vi que tinha um CD na minha bolsa. Era Indigo Girls. Eu fiquei sem graça, não lembro direito como a coisa andou, se eu fui agradecer ou se ele veio contar que tinha sido ele, sei que a conversa caminhou pra ele dizer:
- Mas assim, eu não entendi nada. Nunca tinha ouvido falar e na real achei bem ruim. É folk de mulher gay?
Sei lá se ele tava tentando perguntar se eu era gay. Mas pra mim foi um marco. Uma passagem pra vida adulta. 1. Nem todo mundo conhece Indigo Girls? 2. Nem todo mundo gosta? 3. Folk de mulher gay?
Eu sempre penso na Pequena Sereia penteando o cabelo com o garfo na mesa do jantar porque o albatroz falou pra ela que garfo era pente. Deu um nó na minha cabeça. Eu juro que achava que todo mundo conhecia e gostava e nunca tinha parado pra pensar se as mulheres eram gays, realmente não era um assunto pra mim. Apenas sempre gostei de folk e curtia as letras. Enfim.
Corta. Acabei de ler no New York Times que Closer to Fine tá no filme da Barbie. Mais do que isso, a música é o hino que move a Barbie na direção do mundo real. A linha-fina da matéria diz algo como depois de décadas sendo alvo de piada homofóbica, o duo folk ganha uma redenção. Aliás: os fãs ganham uma redenção, é o que a linha-fina diz.
Não quero fazer parecer que sou fã. Não sou. Até 10 minutos atrás não sabia o nome da Emily Saliers e da Amy Ray. Nem sabia que eram da Geórgia (EUA). Aliás, achava que era Closer to Find (é Fine, lembra, não foi essa a letra que eu tirei na aula de inglês). Mas quero a minha parte da redenção. Porque depois do cara ter mandado o “não conhecia, não gostei, não entendi nada”, acho que nunca mais falei que tava ouvindo. Não que tenha parado de ouvir, mas parei de falar. Então aproveito o novo hype para cantar a plenos pulmões e bem desafinada (mentira, eu canto super direitinho):
There's more than one answer to these questions
Pointing me in a crooked line
And the less I seek my source for some definitive
(The less I seek my source)
Closer I am to fine, yeah
Closer I am to fine, yeah
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