Uma dose de nostalgia

A vida era tão fácil quando eu cabia numa bacia e achava que a bacia era uma piscina. Quando eu podia ficar com o panção à mostra, sem me preocupar se alguém ia pensar "poxa, que pançuda". A vida era tão fácil quando uma foto de biquíni não era UMA FOTO DE BIQUÍNI, ainda mais de perna meio aberta, panção à mostra, dentro de uma bacia. Zero estranhamento. Era "que fofa". Hoje seria "que pançuda".
A vida era tão fácil quando a carreta soltava do caminhão e isso era só de brinquedo (a carreta tá em cima, azul; o caminhão, amarelo em baixo). A vida era fácílima quando eu ainda não achava ardósia brega. E na sala tinha um quadro de cavalos ao vento que também não era brega. Nos últimos 25 anos, aquilo acabou virando minha ideia de brega (aliás, a vida era bem mais fácil quando eu não sabia que ideia não tem mais acento por causa do novo acordo ortográfico). Um bando de cavalo ao vento. Um quadro sem assinatura, da feira da República. Hoje talvez até passasse como quadro cool. De tão brega.
A vida era uma delícia quando uma bacia cheia d'água no quintal de ardósia era igual a diversão. Hoje precisa de gente, e não é qualquer gente, de lugar, da música certa, do isso e do aquilo. Porque se não é deprê.
Não deve ter nem 5 litros de água nessa bacia. E isso bastava. Tudo era motivo para um sorrisão.

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