Vertigo
Hoje eu estou afim de escrever, então vou desfiar aqui a minha teoria sobre Mad Men. Azar o seu. Até porque não é nenhuma grande teoria. Apenas uma teorizinha, que tem a ver com a abertura da série. Veja aqui ("A incorporação foi desativada mediante solicitação", que burros!).

Se eu fosse tradutora de títulos de séries, batizaria Mad Men, em português, de O Povo do Abismo, em uma erudita alusão ao livro de Jack London (leia aqui).
Como você já deve saber, Mad Men retrata o cotidiano de uma agência de publicidade na virada dos anos 1950 para os 1960. Entre os muitos atrativos da série estão o figurino incrível e o fato de todo mundo fumar em tudo quanto é canto. Mas para mim, e para quem fez a abertura da série, trata-se de uma história de colapso.
É como se a série fosse uma resposta à pergunta que Tony Soprano faz no primeiro episódio da primeira temporada de Sopranos, em sua primeira sessão com a Melfi: "What happened to the strong silent type?" (a pergunta está no 1:00 do vídeo abaixo)
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=gZQ9r7rogNg&hl=pt_BR&fs=1&]
Assista Mad Men, Tony (onde quer que você esteja). Você vai entender.
Don Draper está à beira de um colapso, Betty, a mulher dele, já está inteira colapsada. O Pete Campbell então, mais para lá do que para cá. Enfim, chefes, subordinados, maridos, mulheres e amantes, está todo mundo por um triz.
Nos primeiros episódios, eu achava que as mulheres seriam o centro da série (apesar de ela chamar Mad MEN), justamente porque elas estão na beira do momento em que tudo muda. A Betty, por exemplo, já está na terapia. Ela tem um faniquito com as mãos que é ansiedade pura. E já começou a beber. Está a ponto de explodir. Como todas as mulheres estão.
Aliás, as mulheres dos Homens Loucos são divididas em dois tipos: as donas de casa e as secretárias, as pra casar e as pra catar. Não dá para ser as duas coisas. Tem uma que tenta, a Midget, amante principal do Don, uma ilustradora que "anda por aí com uma turma beatnik" (como diz o site oficial). Ela tem trabalho, ela tem casa, mas já está dando toda a pinta de que quer casar. Já reclamou que se sente só, desamparada.
Mas a Betty, que é casada com o galã da série, também se sente só e desamparada. E o galã da série também se sente só e desamparado. E é aí que Mad Men começa a ficar mais interessante.
Para ser o strong silent type de que Tony pergunta é preciso fechar o olho para um tanto de conflitos, isso parece uma ideia simples. A minha teoria para esses homens de Mad Men é que eles podiam compartimentar a vida. Isso quer dizer, no trabalho, havia o conflito do trabalho, mas os conflitos da vida pessoal ficam de fora. Com a amante, há o conflito da amante, mas os conflitos com a mulher e os filhos ficam de fora. Em casa, há os conflitos de casa, mas os conflitos de trabalho ou da amante não entram. Em cada lugar há um conflito. E daí que deve ser mais fácil segurar as pontas quando cada conflito se apresenta de uma vez. Mas sabe lá o que acontece que isso para de funcionar.
E todos começam a desmoronar. A citação a Vertigo na abertura é evidente. Mad Men é uma série sobre vertigem.

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