Meu filho começou a dar sinais de querer cozinhar. Finalmente. Depois de tantas coisas que tive que aprender antes de ensinar, depois do martírio da escola em casa na pandemia, chegamos na cozinha, onde mais ou menos sei o que estou fazendo.
Faz mais de 10 anos que escrevo sobre comida. Os últimos sete, com a Rita Lobo. São uns bons anos comendo, cozinhando e falando sobre comida praticamente o tempo inteiro. Chega a ser chato. Mentira. Não me canso e poderia falar 10x mais.
Tomé cresceu na cozinha. Mesmo. Nas casas em que moramos no Brasil (foram 3), fiz reformas pra cozinha ser o centro da casa mesmo, com mesa, cadeiras, brinquedos, livros, tudo. Ele tem a faca dele, uma Zwilling pra criança. E sempre foi interessado em ajudar, mas não tinha dado o clique de fazer a própria comida.
Pois deu.
De uns tempos pra cá, quer tocar o processo sozinho – e não aceita muito palpite. Começou com salada. Quase sempre é ele que prepara a salada do jantar. Eu passei a proporção básica do molho da casa (3 partes de azeite, uma de vinagre balsâmico, meia de mel, sal e pimenta a gosto) e ele pegou daí.
Então veio a fase dos ovos. Cozido, mexido, frito. Daí, quando ele se atrapalhou pra preparar a omelete e terminou frustrado com um disco borrachudo alvejado de cebola crua, decidi que tava na hora de entrar na história.
Contei pra ele que, claro, cada um prepara a omelete como quiser. Mas que quem não sabe técnica come omelete ruim a vida inteira sem nem se dar conta. Contei também que ninguém nasce sabendo. E que eu mesma ralei pra aprender a fazer omelete.
Não sei quantas horas de YouTube assisti até conseguir chegar mais ou menos ao resultado que eu queria. Julia Child, Jacques Pépin, os dois juntos, Jamie Oliver, Rita, claro (na época ainda não trabalhava com ela), Paulo Shin. Isso sem falar no McGee, o capítulo ovo todo sujo, de tanto ser consultado antes, durante e depois do preparo.
Antes que ele ficasse entediado com meu sermão e fosse brincar no quintal, fiz o convite. Quer aprender pra valer? Ele topou. Pra começar, escolhi a única primeira aula possível.
- Pensa numa coisa que você ama comer. A gente vai pegar a receita, ler e fazer.
- Pudim!
<Pausa pra uma longa respiração…>
Claro que ele ia escolher alguma coisa que eu não sei fazer.
Nunca fiz pudim. Por quê? 2 motivos.
1. Odeio esperar esfriar. Você prepara a comida e quando ela tá pronta, precisa colocar na geladeira e esperar horas… Não é pra mim.
2. Tem coisas que gosto tanto de comer que prefiro não saber fazer. Pudim, creme inglês, milanesa. Viveria falida (baunilha $) e levemente grudenta, todos meus objetos com marcas de digitais, se soubesse fazer creme inglês. E milanesa? Eu dormiria 12 horas por dia naquele espaço mágico entre o bife que não ressecou e a casquinha dourada e crocante. Entende? É melhor não saber. Peço em restaurante, compro quando encontro, imploro pra fazerem pra mim e é isso.
Mas ele escolheu pudim, então bora fazer pudim. A cada passo da receita ele perguntava os porquês – e depois desses anos todos de Panelinha, eu sabia todos. Fiquei me achando.
O pudim ficou quase perfeito. Dava pra ter assado menos, mas ainda assim ficou melhor do que 92% dos pudins que se come por aí. Quanto pudim assado demais nesse mundo… Duro, grosseiro, cheio de furos e rachaduras. Uma tristeza.
Infelizmente o Tomé discorda. Detestou nosso pudim, achou cremoso demais e muito denso. Enjoativo, foi o veredito final. (Talvez ele esteja mais perto da tradição japonesa, uma coisa yogashi.)
Sobrou pra mim
comer o pudim.
Bola pra frente. A fôrma nova (claro que eu não tinha uma) vai ficar no fundo da gaveta embaixo do fogão, emperrando toda vez que eu for pegar tabuleiros pra assar legumes. E o pudim vai ficar pra história. Mais um capítulo da série coisas que fiz pela primeira vez graças a ele.
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será que eu estou no time das pessoas que comem omelete ruim e nem sabe? tutorial de omelete por favor!
pudim de furinho é o melhor, nem vem.
A minha Malu ajuda, mas ainda não teve o clique. Mas o que me estarreceu nessa edição é que agora simplesmente não sei se meu omelete é bem feito. A turma aqui de casa até que gosta, mas será que cometo alguma falha capital? O YouTube que me aguarde.
Parabéns pela edição.